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Senhoras e senhores,

Esse post foi escrito por conta da recente escalada nas tensões que envolvem a Ucrânia. Em resumo, após a queda do presidente pró-Rússia Yanukovych, assumiu o poder um governo de coalizão que inclui grupos pró-Europa e grupos de extrema direita. Em teoria, eleições serão realizadas no fim de maio, mas os eventos recentes podem mudar o quadro.

Para entender a origem da crise, clique aqui nesse post, escrito em dezembro de 2013 e atualizado dia 23 de fevereiro.

O atual cenário:

Em Kiev, capital ucraniana, há um governo interino com apoio ocidental. No leste do país, há uma minoria russa expressiva. Na Criméia, península onde a Rússia mantém uma grade base naval, a maioria é russa. A população local, se nascida há mais de 60 anos, é russa na certidão de nascimento, criação, idioma aprendido na escola. Foi apenas na década de 1950 que Kruschev, após a morte de Stálin, transferiu a Criméia para a Ucrânia no contexto da URSS. Antes disso, era Rússia. A região tem status de república autônoma desde a década de 1990, momento em que a URSS se fragmentou e diversos países ficaram independentes. Seu parlamento local pediu ajuda militar à Rússia caso seja necessário. Putin obteve aprovação do legislativo russo. Assim, o que era uma crise pela deposição de um presidente tornou-se também uma crise que pode envolver separatismo e intervenção russa.

A retórica belicista dos governantes assusta, os jornais amplificam para vender mais, mas o fato é que pode acontecer qualquer coisa, e pode não acontecer nada.

No momento, tropas russas e milícias locais pró-Moscou dominam a Criméia e ouros pontos do leste do país. O ponto é estratégico desde sempre, a Rússia travou contra o Ocidente uma guerra na região no séc. XIX, a pouco conhecida guerra da Criméia.

OTAN e UE falam alto, mas na prática pouco podem fazer. E o pouco que podem, realmente interessa? Há interesse real de se envolver numa guerra por causa da Ucrânia? Quando armas químicas foram usadas na Síria, os EUA disseram que era inaceitável, François Hollande disse que algo precisava ser feito. E foi: um acordo que permite a inspetores da ONU buscar essas armas na Síria, e só. Assad pode matar, desde que não seja com armas químicas. Foi ridículo. Em 2008, Putin fez um passeio militar pela Geórgia após advertências igualmente graves por parte do ocidente de que tal invasão seria extremamente perigosa e poderia gerar reações. E nada aconteceu.

Não espanta a atitude de Putin, longe disso.

Se considerarmos a conduta das potências, ele está agindo pelo mesmo padrão . Todos apoiam ditaduras  e monarquias do pito tipo. China, França, Inglaterra e EUA não têm estatura moral para criticar nem o pior dos ditadores (que provavelmente eles financiam). Não enquanto houver Guantánamo, um Tibete invadido, apoio chinês à ditadura da Coreia do Norte e o apoio geral às ditaduras e petromonarquias do Golfo e do resto do Oriente Médio (e, por que não, do mundo?).

Uma coisa é fato: a Ucrânia sozinha não pode contra o exército russo.

Há que se analisar também o quadro interno.

O país de fato é divido, resultado de uma longa história de disputa entre povos vizinhos, dos pequenos aos grandes impérios como o russo e o turco. Hoje, apresenta uma divisão cultural que tem reflexos diretos na política. Há os ucranianos étnicos, os tártaros e os russos. O leste, mais russo, concentra as maiores riquezas agrícolas ou industriais, já que a Ucrânia se destaca tanto na produção de milho, trigo e mel, quanto armas (está entre os 10 maiores exportadores). A Criméia, como já foi dito, é de maioria russa e até a década de 1950 de fato era território russo. Esta parte do país é pró-Rússia e considera a queda de Yanukovych um golpe. Há acusações de financiamento europeu. O que está em discussão, além do nível geopolítico, é um projeto de país, suspiros ainda do colapso da URSS. Há uma discussão sobre o caráter nacional do país, sobre o que é a Ucrânia e, por que não, se deve haver uma Ucrânia.  Como mostrou a crise dos Balcãs na década de 90 e como, pacificamente, se vê na questão da Escócia e da Catalunha, a Europa ainda tem muito o que resolver quando o assunto é nacionalismo. A Europa, como o mundo, também tem suas fronteiras artificiais e fraturas.

Economicamente, a Ucrânia exporta quase 30% da sua produção para a Rússia. Além disso, Moscou paga a Kiev royalties pelo uso da rede de gasodutos do país (ver o post indicado acima). Yanukovych não poderia simplesmente abrir mão de tais recursos, a não ser mediante empréstimos junto ao FMI e à UE, o que já está sendo negociado.

A parcela russa da população assiste tudo com apreensão. Yanukovych, lembram eles, foi democraticamente eleito. O acordo com a UE cujo cancelamento originou a crise exigia o fim dos privilégios comerciais da Rússia, assim como a libertação da líder opositora e ex-ministra Yulia Tymoshenko, presa por evasão de divisas, fraude e desvio de verbas. Sob esse aspecto, a crise ganha outro tom. A UE passa a ser vista como interessada direta no quadro atual.

Se a Rússia invadir o resto do país “em defesa de seus interesses e dos povos russos da região”, veremos o que de fato o ocidente é capaz (ou não) de fazer. Europa em crise, EUA começando a se recuperar, OTAN saindo do Afeganistão, ONU e ocidentais se recusando a por a mão na massa na Síria, Obama negociando com o Irã. Tudo leva a crer que uma guerra de verdade está longe do horizonte. A Rússia sabe disso e tem uma janela de oportunidade para expandir seu poder real e simbólico, ou recuperá-lo. Resta saber quanto desgaste Putin está disposto a aguentar nas suas relações com as outras potências. Ou seja, quanto a Ucrânia realmente vale para a Rússia, eis o que importa saber.

Um confronto militar Rússia x Ocidente é muito improvável por todos os pontos acima e por uma última questão: Moscou controla muito da energia da Europa, o que dá a Putin uma grande margem. Por outro lado, Moscou precisa do dinheiro que esse gás gera. A questão é que a Rússia pode passar algum tempo sem esses recursos, a Europa não. A economia européia, ainda frágil, depende disso.

Para a Rússia, no cenário delineado acima, tudo isso pode ser uma forma de “recuperar seu espaço”. O colapso da URSS deixou marcas profundas na Rússia, em todos os níveis. Na geopolítica russa e no nacionalismo que se vê nas ruas, a Rússia de hoje ainda não recuperou sua área histórica, “justa”, de influência. O Cáucaso é mantido somente mediante muito esforço, o leste europeu e o báltico já pertencem à UE e OTAN. Resta aos russos barrar o avanço ocidental no pouco que sobrou do leste europeu e manter sua influência na Ásia Central, apoiando o Irã e complicando a Guerra do Afeganistão para manter a região isolada e cativa da sua rede de gasodutos. Se pensarmos da defesa que Putin faz de Assad, na Síria, veremos com que disposição Moscou defende seus interesses. Com um ocidente em crise econômica e retirada militar, e uma Europa dependente de energia, o momento é bom. A China, essa segue quieta, quieta.

Hoje, em entrevista, o czar garantiu que não anexará a Criméia nem pretende invadir o resto do país, a não ser que “os interesses russos estejam em perigo”. Disse ainda que reconhece como justas as demandas dos manifestantes que derrubaram o governo, mas avisou que não aceita considerar o que ocorreu como revolução. Para ele, foi golpe. Terminou dizendo que, se for para considerar o fato como revolução, então o que passou a existir é um novo governo, uma nova Ucrânia, e que com este país a Rússia não tem nem precisa respeitar qualquer tipo de acordo. Nessa linha, a Rússia já cortou um desconto de 30% que dava ao governo ucraniano (o deposto) no preço do gás.

Putin, o enxadrista, está em vantagem.

Atualização em 09/03

Recentemente, o parlamento local da Criméia declarou ser favorável a uma anexação à Rússia. A população foi chamada ara um referendo a se realizar no próximo fim de semana. Analistas acreditam que a população votará a favor da anexação. As autoridades de Kiev, os EUA e a UE disseram que não reconhecerão o referendo, considerado inválido. O parlamento russo já se manifestou a favor da anexação se for essa a vontade da população. O impasse prossegue.

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Pessoal,

Segue abaixo o documentário “Condor”, de Roberto Mader, sobre a operação que levava o mesmo nome.

Nos anos em que ditaduras civis-militares dominavam a maior parte da América do Sul, os governos arquitetaram uma operação conjunta para captura ou troca de prisioneiros políticos e dissidentes. As recentes revelações obtidas pela Comissão Nacional da Verdade e pelas diversas comissões estaduais tem jogado uma nova luz sobre este período. Assim sendo, este documentário torna-se ainda mais importante para melhor conhecermos o que ocorreu no passado recente dos países da nossa região.

A maioria das falas é em português, mas há também passagens em inglês e espanhol. A legenda pode ser ativada/desativada no próprio YouTube.

Obrigado Giuliane Alêssa por nos enviar o link.

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O cenário mundial atual nos remete, mais uma vez, a uma possível guerra. Seja na Síria ou no Irã, o que mais me chama a atenção é a falta de memória histórica sobre o que de fato significa uma guerra. Esqueçamos um pouco a historiografia oficial, os livros sobre a bravura dos combatentes e os heróis que são construídos a posteriori. Uma vez no campo de batalha, todo heroísmo e bravura são devorados pela dor, bestialidade e crueldade de ações que, além de dilacerar corpos, dilaceram almas, sonhos e futuros.

Nenhuma guerra deveria ser motivo de orghulho. A guerra, qualquer que seja o motivo, deveria ser vista como o fracasso do projeto de humanidade, de sociedade, de tolerância e da razão em si.

Resumindo, penso que a guerra nos moldes cinematográficos não deveria servir de medida para a construção de uma memória histórica sobre o seu real significado. O significado deveria ser veiculado pelas palavras e memórias de quem a viveu o conflito e sabe do impacto que ela causa no psicológico de um ser humano.

Nesse sentido, aconselho duas produções televisivas.

Uma, é um documentário de produção francesa chamado Apocalipse. Feito totalmente com cenas da época, colorizadas por computador, o documentário consegue recriar uma atmosfera que vai além das narrativas heróicas e traz a tona uma guerra vivida por civis que foram jogados no meio do mais terrível conflito do século XX. Para assitir, clique na imagem abaixo.

APOCALIPSE: a 2ª Guerra Mundial

 

O segundo é uma produção da HBO chamada Band of Brothers. Mesmo sendo uma produção de estilo cinematográfico e tendenciosa em alguns momentos, os relatos dos combatentes e o lado humano dos dramas desses personagens servem como uma boa medida do que é de fato uma guerra. O trailer abaixo contém alguns relatos dos combatentes que participaram da ofensiva anglo-estadunidense conhecida como Operação Overlord (Dia D) e que serviram de inspiração para a série:

Para acessar a ficha técnica da série, clique aqui.

Abraços,

André Luis 

Acabo de ler um excelente e imperdível artigo no site da Carta Capital. De autoria de Marcio Sampaio de Castro, sob o título “Os tambores da guerra” (artigo disponível nesse link), o texto relata alguns exemplos de manipulação dos fatos pelos interesses econômicos de potências ocidentais, notadamente os EUA. O objetivo de tal manipulação seria convencer a opinião pública a aceitar uma guerra contra um determinado país. Lembremos que em sistemas democráticos é fundamental obter o apoio da opinião pública. Aliás, tendo o apoio da opinião pública, até os direitos elementares dos cidadãos são rasgados e varridos para algum lugar entre a hipocrisia e a violência do “olho por olho” (a atual administração municipal da cidade de São Paulo corrobora de forma cristalina com essa tese, mas isso é assunto para outro post).
Em tempos de inimigos “perigosíssimos” como a Líbia, o Irã e a Síria, o artigo nos relembra a falácia da operação “Tempestade no Deserto”  durante a primeira invasão americana ao Iraque (1990-1991). Sob a alegação de que o governo de Saddam Husseim possuía armamento biológico e químico, o país foi devastado. Aproximadamente meio milhão de civis iraquianos morreram em de decorrência do conflito (as tropas americanas utilizavam a chamada “munição suja”, projéteis carregados com resíduos radioativos que contaminaram inúmeras áreas do Iraque, aumentando em mais de dez vezes os casos de leucemia infantil, sem contar a utilização de napalm). O resultado da operação: o Iraque, devastado pela guerra,  não possuía o arsenal alegado freneticamente pela administração Bush-pai e pela mídia norte-americana.
Para quem quiser conferir tais informações, vale a pena ver esse documentário de 1995, “Riding the storm: How to tell lies and win wars”.

 

RIDING THE STORM HOW TO TELL LIES AND WIN WARS

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Em tempo, #stopSOPA.